Nossas celebrações e festas

Veja as celebrações e festas feitas para as comunidades quilombolas de MT. As celebrações e festas são feitas com o objetivo de reunir os membros das comunidades quilombolas e promover a cultura local e proporcionar alegria.

Nome da celebração e ou festa:

Festa de São Benedito/ Dança do Congo – Nossa Senhora do Livramento (MT)

Comunidade de realização:

Complexo de Mata Cavalo – Celebração realizada na Casa S. Benedito (N. Senhora do Livramento)

Coordenada geográfica:

O que é a celebração/festa:

A Festa de São Benedito, santo negro católico reverenciado em todo o território nacional, possui um lugar e um significado especial para a comunidade Negra de Nossa Senhora do Livramento por assumir um poder sincrético, sintetizando o santo negro, o preto velho e o rei africano lendário envolto em histórias confusas, com diversas versões e conflitos, como é o caso da Casa São Benedito, dos quilombolas e da Dança do Congo. (OLIVEIRA, ano?) A celebração a São Benedito de Nossa Senhora do Livramento, apesar das suas dimensões, guarda algumas características em comum com as festas de santo existentes na região, como as peregrinações de esmola para recolha de doações e a mobilização em torno da cozinha. A celebração a São Benedito de Nossa Senhora do Livramento, possui um caráter de sincretismo por meio da dimensão comum nas festas de Santo (presença peregrinações de esmola para recolha de doações (bandeiras) e a mobilização em torno da cozinha) e a manifestação da Dança do Congo), um folguedo popular existente em várias partes do Brasil, em louvor aos santos Negros, especialmente São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Em Mato Grosso a dança do Congo é tradicional no município de Vila Bela da Santíssima Trindade e de Nossa Senhora do Livramento. O ritual centenário possui a sua origem no imaginário social do quilombo de Mata Cavalo – comunidade negra de descendentes de escravos situada no município de Nossa Senhora do Livramento, porém a celebração possui como palco a “Casa de São Benedito, espaço sede do grupo.

Significados e funções que as celebrações têm para a comunidade:

A festa de S.ao bendito representa para a comunidade afrodescendente uma forma de fortalecer os seus laços identitários, devocional e expressão de resistência frente á discriminação étnico-racial e da luta pelo território.

História sobre a origem e transformações da celebração ao longo do tempo:

“Ritual centenário, originado do imaginário do quilombo de Mata Cavalo, comunidade negra de descendentes de escravos situada no Estado de Mato Grosso, em meados do século XIX, conta a história de uma dura guerra, encenada através de cantos, danças e declamações, sempre em louvor aos santos de devoção. Ambas as danças assumem a forma de um teatro a céu aberto, que representa uma guerra feroz. Também nos dois casos, o reino do Congo perde a batalha para o oponente. Mas, depois das agruras, a população oprimida encontra uma saída. Portanto, entre os ingredientes dos dois textos está uma dose de realismo (a guerra perdida), mas também de esperança e superação (a libertação dos guerreiros presos, em Livramento, ou a ressurreição dos soldados mortos, em Vila Bela). A tradição do Congo, nascida dentro de Mata Cavalo, quase se extinguiu durante as décadas em que a população permaneceu dispersa. Mas, graças à iniciativa de uma liderança, Cesário Sarat, a dança foi retomada no período de diáspora, através da reorganização do grupo nas periferias urbanas onde a população passou a habitar. O passo seguinte foi a retomada da festa de São Benedito de Nossa Senhora do Livramento – onde os guerreiros do Congo passaram a apresentar-se todos os anos. Atualmente, o grupo do Congo de Livramento é formado por participantes de diversos municípios, que geralmente partilham uma ancestralidade comum, originada a partir do quilombo”. (ÁGUAS, 2013). O trabalho do rei perpétuo do Congo, o Sr. Cesário Sarate, falecido em novembro de 2004, foi imprescindível para a manutenção da tradição e ampliação da dimensão da dança do Congo de N. Senhora do Livramento, assim como serviu com catalisador para fomentar o processo de migração de retorno das famílias quilombolas (des) territorializadas na década de 1940. Ao Rei Monarco, vestido de azul, caberia primitivamente o papel de condutor das falas e das cantigas, devendo-se a ele o primeiro toque da baqueta desde a alvorada até as últimas visitas às casas, o que tradicionalmente marcaria o final da Dança do Congo e início do baile. A tradição foi quebrada após a morte de Macário (na Mutuca era o Rei Monarco) e Manoel Lino (que em Livramento também foi Rei Monarco). Todavia, esta condução tem sido realizada pelo Rei de Congo, sendo bastante comum a esta personagem interferir nas atribuições dos Generais, cuja função consiste em organizar as filas, plateia e transeuntes de maneira geral. Esta relação de mando e a forma de organizar o Congo deve-se à sua estrutura hierarquizada, visto que nem todos os dançantes sabem o que têm que fazer durante o teatro ritual e isso se deve ao fato de que não possuem mais o ensaio como prática pedagógica.

Vai ter expressões orais (música, orações, etc)?

A festão de São Benedito é marcada por várias etapas que inicia com a missa na Igreja de Nossa Senhora do livramento com a presença do grupo de dança do Congo (Vermelho e Azul) que posicionam no altar atrás da pedra de cerimonia. A cerimonia realizada por meio do canto religioso acompanhado por atabaque, timba, pandeiroou ganzá evidenciando musicalmente o sincretismo da celebração. No espaço da Casa S. Benedito a celebração conta com momento de orações, reza cantada acompanhada com cânticos de louvor ao santo (ladainhas) e reza cantada e oferta de alimentação.

Terá danças ou encenações durante a celebração?

A dança do congo ou congada, de origem africana, representa a resistência dos negros. É uma dança de característica dramática e indumentária colorida, associada ao uso de espadas, simboliza a luta entre dois potentados africanos, um representando a nação do rei de Portugal, o dominador, e outro representando a nação do Rei do Congo, ou seja, a África negra e dominada. Se constituem de duas partes distintas, a cantiga e a embaixada. Nas cantigas (também denominada de cortejo real) destacam-se as canções religiosas, geralmente faziam parte das comemorações festivas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito e danças que refletiam os costumes e trabalhos tribais. A embaixada é a parte de grupos representantes dos dois Reis, geralmente com mensagem de guerra, e também representava a dança de louvação a São Benedito, o santo que representava o poder final de restituição da paz e do perdão entre os grupos de conflitos. A narrativa da guerra é encenada através de cantos, danças e declamações, sempre em louvor aos santos de devoção, no caso de Nossa Senhora do Livramento, a São Benedito, realizado anualmente no mês de abril quando celebra a morte do santo. Segundo Oliveira (2011, p.63) ” na Dança do Congo a manifestação artística fortemente representada como teatro ritual se afirma como expressão da devoção a São Benedito que representa esse sincretismo dentro e fora do Congo e isso não se dá de forma gratuita senão pelo vitalismo de Ogum representado pelo santo, mas que tem sua representação mais forte no Rei de Congo que agrega o curandeiro, o guerreiro e o monarca, como ponto de convergência da religiosidade, da expressão artística e demarcando o território negro. Não há, como em outros folguedos semelhantes, um momento de coroação, mas a teatralização da guerra. Os dois grupos oponentes alternam danças, cantos e declamações, que compõem o enredo. O confronto entre os dois exércitos dá-se através de uma galeria de personagens, a começar pelo próprio rei do Congo. Do lado oposto está o governante inimigo, denominado rei monarca, com seus trajes azuis. Além destes governantes supremos, outros personagens compõem as respetivas cortes, como os príncipes, generais, pés-de-ila, líderes dos soldado e secretários, caranguejis (soldados infantis) e o perturbador mucuache – o irreverente mensageiro do Congo. O mucuache, uma espécie de bobo-da-corte e mensageiro do Congo, que tem um papel decisivo tanto quando a guerra é desencadeada, quanto na definição do destino do reino africano. Tudo começa quando o monarca se sente incomodado pelo som dos instrumentos musicais – geri congo, pando, pandeiro, marimba – que vinha do Reino do Congo. As guerras são travadas entre os soldados, com suas espadas de madeira e também entre os reis, com seus instrumentos musicais. Após um longo tempo de batalha, o Rei Monarca perdoa os devaneios do outro soberano, acabando com o conflito.

Será necessário usar acessórios e vestimentas na celebração?

As roupas ou vestimentas dos congadeiros também fazem parte do repertório da dramaturgia, ou seja, o colorido reforça a beleza da dança. As espadas também ganham destaques, simbolizando o poder. Rei do Congo – autoridade máxima vermelha, responsável por liderar a dança. Usa calça e saiote branco; blusa coroa e capa vermelha com estrelas e duas espadas cruzadas bordadas nas costas. Rei Monarca – autoridade máxima azul. Suas roupas são como as do Rei do Congo, porém azuis. Em sua capa estão bordadas estrelas prateadas e uma coroa. Príncipes – crianças entre 8 e 12 anos, vestidas semelhantes aos reis. São uma homenagem a São Gonçalo. Trazem em punho uma espada e a bandeira com o símbolo de seus respectivos reinados. Generais – Usam capas, porém mais curtas que a do rei. O chapéu tem o formato de canoa, no estilo Napoleão Bonaparte. Empunha espadas e na hora da guerra se enfrentam para defender o reino. Pés-de-fila – Soldados-líder que ligam a corte aos soldados, cantando e tocando os instrumentos Mucuache – mensageiro do Rei de Congo. Faz brincadeiras ao longo das apresentações, fazendo traquinagens na corte alheia e provoca a guerra entre os reinos. Secretário – mensageiro do Rei Monarca. Lidera a prisão do Mucuache. Duque – Atende ao príncipe Monarca, fazendo a soltura do rei do Congo. Caranguejis – Meninos de até 12 anos que se vestem como os soldados, acampanhando-os.

Vai ter alimentos especiais na celebração?

Como toda festa de santo é servido (gratuitamente e fartura) o tradicional chá-com-bolo: (brôas, sequilhos, bolo de arroz, de queijo) e almoço á base de costelinha com banana verde, ensopadão de carne com mandioca, linguiça ou carne seca com arroz, sobremesas (doce de leite, furrundú, etc ).

Quais estruturas e recursos são necessários para a celebração?

Para realização da dança do Congo é necessário confecção ou reparo das vestimentas e adereços; Para adequação da infraestrutura para a festa e alimentação os organizadores contam com doações de devotos, festeiros e arrecadação das bandeiras.

Programação:

A festa de S. Benedito inicia com a alvorada seguida pela congada. Os dançantes se reúnem no domingo de manhã em frente à igreja matriz, de onde sai a procissão da imagem de São Benedito, carregada sobre um andor para participar da missa na Igreja de Nossa Senhora do Livramento, seguido de um chá com bolo para os participantes. O grupo passa de casa em casa, dançando para todos os que abrem suas portas, geralmente com comidas e bebidas para oferecer . Em seguida, o Congo retorna para a praça da matriz, onde o teatro a céu aberto é apresentado. As encenações das batalhas chegam a durar duas horas, com no mínimo vinte soldados em cada reinado. Por fim, é terminada a guerra e o grupo dança na Casa de São Benedito.

Data e horário de realização da celebração: