Saber/Fazer: Sabores Afro

No “Baú dos saberes e sabores” encontra-se registrado o significado simbólico, cultural e identitário dos produtos; o saber/fazer dos sabores oriundos da culinária quilombola, de produtos utilizados quase esquecidos e/ou ameaçados de extinção, mas como potenciais produtivos requeridos pela sociedade contemporânea.

O que é o Baú dos saberes e sabores quilombolas?

No “Baú dos saberes e sabores” encontra-se registrado o significado simbólico, cultural e identitário dos produtos; o saber/fazer dos sabores oriundos da culinária quilombola, de produtos utilizados quase esquecidos e/ou ameaçados de extinção, mas como potenciais produtivos requeridos pela sociedade contemporânea.

Nos territórios quilombolas, a comida constitui a dimensão mais ampla da comensalidade, entendida como uma matriz relacional que conecta todos os seres, homens e mulheres, crianças e adultos, humanos e santos, humanos e animais, humanos e a terra, a memória e a ancestralidade. Essas relações envolvem práticas alimentares que transcendem os processos meramente físicos do ato de comer, pois o que se come, quando e com quem se come, no mundo dos quilombos, implica acionar uma rede de relações de irmandades de santo e de parentesco, pondo em operação uma economia política de produção de pessoas e parentes. (LOURENÇO, 2019, p.299) A elaboração culinária dos afrodescendentes do Brasil, especialmente de Mato Grosso, constitui um patrimônio cultural imaterial riquíssimo, porque envolve não somente o ato de cozinhar, mas toda uma ampla gama de elementos como crenças, a religiosidade (afrocatólica e de matriz africana), os conhecimentos sobre os ciclos da natureza, as técnicas de colheita, corte e preparo, a construção de fornos e cozinhas adjacentes às casas e muitas outras informações com base na experiência. (SILVA, 2019, p. 39) Os sabores afro-brasileiros são adaptações de pratos de origem africana aos alimentos cultivados no Brasil, do qual os africanos escravizados recriaram os seus quitutes por meio da bricolagem do saber/fazer trazido de sua terra natal aos ingredientes locais. A diversidade de ecossistemas existentes no território brasileiro (fauna e flora) contribuiu para que cada região apresente particularidades na culinária afro-brasileira, porém com o uso comum de alguns produtos como a mandioca, milho, banana e variedade de feijão e pimentas. A habilidade de improvisar receitas, o gosto por novos temperos, a arte de misturar ingredientes europeus e indígenas e o gosto por alimentos cozidos e não frituras são características prevalecentes na culinária afro-brasileira, como o pirão de mandioca que acompanha o peixe, o ensopadão, afogadão, carne com mandioca, carne com banana da terra verde ou madura, quibebe de abóbora, quibebe de mamão verde, carne com cará ou inhame, carne com maxixe, peixe com maxixe, mujica de pintado (peixe cozido com mandioca), carne seca com mandioca/abóbora, carne com quiabo, feijão empamonado, sarapatel, angu, feijoada cuiabana. Outros pratos tradicionais são: quebra-torto (desjejum composto por arroz, carne e ovos mexidos com farinha); mingau de milho verde, farinha de milho ou de banana; farofa de banana; paçoca de carne no pilão e/ou de banana verde com torresmo; cabeça de boi assada;  biscoitos assados ( francisquito, de fubá com ou sem polvilho, de garfo e ou de ramos negreiros), fruto de plantas do cerrado (jatobá, baru e/ou cumbaru); bolo de arroz , furrundu ( feito com caule e/ou fruto  de mamoeiro com melado de cana);  rapaduras. Nas comunidades quilombolas da região tradicionalmente conhecida como “Baixada Cuiabana” a rainha da gastronomia quilombola são as diversas espécies da banana (da terra, ourinho ou maçã), que prevalecem na gastronomia e representam fonte de renda para muitas famílias quilombolas, por meio da produção e comercialização de licor, doce, bala e rapadura de banana; farinha de banana; chips de banana verde. Tais sabores fazem parte do cotidiano, da vida tradicional e dos dias festivos.  Se você desejar degustar os sabores supracitados, acesse o Bulixo dos Sabores e venha celebrar conosco as festas de santos! Mas se você é adepto às experiências do saber/fazer, descubra as receitas quilombolas disponíveis e bom apetite!

Quilombo origina-se do termo kilombo (idioma dos povos Bantu) e   significa local de pouso ou acampamento utilizado para repouso em longas viagens pelos povos da África Ocidental. A palavra foi adaptada, no Brasil Colônia, para designar o local de refúgio dos escravos fugitivos. A condição atribuída ao grupo afrodescendente brasileiro como “quilombola” ou remanescentes de quilombos é a ancestralidade africana de negros escravizados que se refugiaram nas matas, formando posteriormente os quilombos.

O saber/fazer das comunidades afro-brasileiras (quilombolas) é decorrente do legado africano, transmitido pela oralidade de geração para geração pautado em formas particulares de organização social e ocupação e uso do território e recursos naturais como condição para sua reprodução sociocultural, religiosa e econômica. Esse saber/fazer mantido pela memória, história e etnicidade é constantemente recriado em função do contato com o outro, constituindo práticas culturais, hábitos, costumes e vínculos sociais de pertencimento e identitários impressos no território.

A produção das formas espaciais no território quilombola constitui o resultado não apenas de fatores geoambientais como clima, hidrografia ou topografia, mas também são moldadas pelas formas de pensar de uma sociedade e práticas culturais expressas nas crenças e valores. É por meio de sua territorialidade que os quilombolas exprimem sua concepção de mundo, a sua organização, hierarquias e funções sociais. Eles passam a ter relações com o seu terroir, onde a terra não era apenas um lugar de produção, mas também o suporte de uma visão de mundo e afetividade espacial.

As comunidades quilombolas, ao longo das gerações, desenvolveram saberes e fazeres em diálogo e uso equilibrado dos recursos naturais existentes de modo que não coloca em risco as condições de reprodução dos ecossistemas e da sua própria reprodução social.

A adaptação do grupo social à biodiversidade existente em seu território e à cultura passa a ser registrada desde as toponímias dos quilombos, ou seja, até no modus vivendis, na gastronomia, dentre outras manifestações culturais.  A saber, o nome do Quilombo Cansanção, é uma expressão de origem banto, e nome de uma planta existente no cerrado, cujo leite é comumente utilizado como remédio pelos quilombolas.

Entretanto, os saberes/fazeres afro-brasileiros estão ameaçados em decorrência da perda de parte de seu território devido à expansão do agronegócio e/ou pelo grande latifundiário e ao envelhecimento da população e morte dos Griôs, verdadeira biblioteca da sabedoria e tradição desse povo, além de conhecer o uso das plantas e/ou fazer dos sabores. Daí a relevância do registro dos saberes/fazeres desse grupo social!

Adentre em nosso Baú cultural e desvende a nossa cultura e sabores!

Existem várias comunidades quilombolas que estão colaborando com o projeto com o objetivo de promover saberes e sabores quilombolas de produtos tradicionais da região, as comunidades que compõem são Comunidade Campina de Pedra, Comunidade Capão Verde, Território de Mata Cavalo (Capim Verde, Ribeirão do Estiva, Mata Cavalo de Cima, Mata Cavalo de Caixo, Ribeirão da Mutuca, Aguaçú), Comunidade de Morro Aguaçú), Comunidade de Morro Cortado, Comunidade Ribeirão Itambé, Comunidade São Benedito.

São vendidos vários tipos de produtos, todos são frutos do trabalho de agricultura familiar, cultivados de forma tradicional e livre de agrotóxicos, seguindo os princípios da agroecologia. Acesse o Bulixo e veja os produtos comercializados pelas comunidades quilombolas.

Lista saber/fazer: sabores afro em ordem alfabética

Babaçu ou Aguaçu

Palmácea robusta, imponente, de estipe solitário, de 10-30 metros de subsistência e altura e 30-60 centímetros de diâmetro, com 7

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Você pode ajudar este projeto enviando informações sobre produtos oriundos produzidos pelas comunidades quilombolas.

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