No Baú do saber/fazer das receitas quilombolas são registradas as receitas que compõem o cotidiano alimentar, as comidas de santos e orixás e o significado simbólico e o uso das plantas medicinais e aromáticas que fazem parte do modus vinvendis e identidade cultural quilombola
No Baú do saber/fazer das receitas quilombolas são registradas as receitas que compõem o cotidiano alimentar, as comidas de santos e orixás e o significado simbólico e o uso das plantas medicinais e aromáticas que fazem parte do modus vinvendis e identidade cultural quilombola
Além da necessidade diária, a cozinha africana está ligada à religião, pois estão certos de que os orixás comem o mesmo que os seres humanos. No candomblé, religião afro-brasileira, são cultuados os orixás, que são divindades com as quais os seres humanos estabelecem ligações, por meio de rituais de oferendas. A dádiva aos orixás é constituída de comida votiva.
O candomblé reproduz simbolicamente a antiga família iorubá, que no Brasil foi completamente desestruturada pela escravidão. A comunidade do terreiro é chamada de família de santo, e cada um de seus membros ocupa um lugar na hierarquia, isto é, nos diferentes níveis de poder. Nas profundas relações entre as pessoas e as divindades evidentes nas trocas de dádivas espirituais e físicas, alguns alimentos votivos são preparados ritualmente, com evocações de essência ancestral (ROCHA, 2015).
Nas casas (ou terreiros) de candomblé são preparadas “comidas secas” para serem ofertadas aos santos por meio de “rituais compostos de frutas, alimentos, carnes, bebidas, flores, louças e adereços que servem para oferecer aos Orixás, como uma súplica para se alcançar uma graça, bem como para homenagear e cultuar um orixá, de forma a estabelecer o nosso vínculo com ele. Cada Orixá tem os seus respectivos alimentos, as suas flores, as suas cores, as suas bebidas e a sua forma particular de culto, orações e invocações. Nos terreiros o saber/fazer da comida é oferecida ao Orixá acompanhado de rezas(ádùra), cantigas, evocações (oriki), de encantamento (fó), evocações (oriki); ligadas a estórias sagradas (itans), que são elementos essenciais e vitais para a transmissão do axé.” (ROCHA, 2015 Apud WALENT, 2008). Elas são chamadas de “Comidas de axé”, pois à medida que o orixá aceita a oferenda, a comida é impregnada de energia positiva. Aguiar (2012) pondera que os rituais que acontecem no momento da festa, em torno da comida, estabelecem entre os participantes laços afetivos e espirituais de dimensão cósmica, assumindo um significado mais amplo promovendo a socialização entre os iniciados, a comunidade e os orixás.
No processo de sincretismo nutricional do candomblé no Brasil, o milho e a mandioca foram os principais produtos agrícolas que ingressaram na comida votiva. Oxossi, e Ossaim comem axoxó (canjica) preparado com milho vermelho (ágbado) cozido, enquanto o milho branco é preparado para Iemanjá (canjica com mel ou azeite doce), Oxalá (ebô sem sal) Oxum (com côco) e Oxalufã. Obaluaiê e Exu ingerem milho de pipoca, Oxumaré se alimenta de farinha de milho e Naná gosta de mungunzá (mingau de milho) (ROCHA, 2015 Apud WALENT, 2008). Vale ressaltar que os nomes de algumas comidas sofrem alterações regionais, por exemplo, o munguzá em Mato Grosso diz respeito à canjica de milho e a canjica do Nordeste diz respeito ao curau de milho verde em Mato Grosso, sem, no entanto, o saber/fazer das iguarias ser alterado.
A comida que é servida para os orixás é diferente daquela que é servida para as pessoas, embora muitas comidas fossem reinventadas e fizessem parte da gastronomia regional, como é o caso do acarajé, vatapá, caruru, abará, moqueca, angu etc. Tais receitas e as recriações do modo de saber/fazer utilizadas nos terreiros quilombolas você obterá no espaço de nossas receitas!
Referência Bibliográfica:
ROCHA, D. Comida de Santo: oferenda aos Orixás (Tenda dos Milagres (1969), de Jorge Amado. Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.1 | Nº. 3 | Ano 2015 | p. 79 – 90.
AGUIAR, J. C. T. M. Os orixás, o imaginário e a comida no candomblé. Revista Fórum Identidades, Itabaiana (SE), ano 6, v. 11, p. 160-170, jan.-jun. 2012.
Existem várias comunidades quilombolas que estão colaborando com o projeto com o objetivo de promover saberes e sabores quilombolas de produtos tradicionais da região, as comunidades que compõem são Comunidade Campina de Pedra, Comunidade Capão Verde, Território de Mata Cavalo (Capim Verde, Ribeirão do Estiva, Mata Cavalo de Cima, Mata Cavalo de Caixo, Ribeirão da Mutuca, Aguaçú), Comunidade de Morro Comunidade Ribeirão Itambé, Comunidade São Benedito.
São vendidos vários tipos de produtos, todos são frutos do trabalho de agricultura familiar, cultivados de forma tradicional e livre de agrotóxicos, seguindo os princípios da agroecologia. Acesse o Bulixo e veja os produtos comercializados pelas comunidades quilombolas.
Lista saber/fazer: receitas em ordem alfabética
Você pode ajudar este projeto enviando informações sobre produtos oriundos produzidos pelas comunidades quilombolas.
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