No Brasil a ausência de equidade na distribuição de renda é acompanhada pela marginalização de um percentual significativo da população que se encontra excluída de políticas públicas e sociais que estimulem a produção comunitária reprodução e ação social. Dentre os excluídos destacam-se as comunidades tradicionais quilombolas, cuja economia está ancorada na agricultura familiar e no artesanato. Entende-se por quilombolas os grupos sociais descendentes de povos historicamente escravizados e discriminados que sobrevivem em enclaves comunitários, muitas vezes em terras herdadas de seus antepassados por meio da compra quando libertos, pela posse de terras devolutas ou que viviam em “terras de santo”, há muitos anos regularizadas ao redor de igrejas e que delas cuidava. (Machado, 208, p. 74). Entretanto, muitas dessas terras não possuem escrituras, causando confronto entre esses grupos e os grandes proprietários de terras. Além da problemática da luta pela terra, existe a invisibilidade desse grupo no que tange às políticas públicas que garantam a sua reprodução social. O cenário atual enfrentado pela pandemia da Covid-19 contribuiu para que essas comunidades desenvolvessem as práticas laborativas e comerciais que garantissem a sua sobrevivência, razão pela qual esta proposta foi submetida e aprovada no Edital x Herica Completar.
A proposta consiste em criar um espaço virtual capaz de registrar as práticas culturais dos grupos sociais afrodescendentes do Vale do Rio Cuiabá (MT): Campina de Pedra, São Benedito, Capão Verde e Morro Cortado (Poconé), Ribeirão do Peba (Chapada dos Guimarães), Território de Mata-Cavalo (N. S. do Livramento). Espera-se que este espaço contribua para manter vivos os saberes/fazeres transmitidos tradicionalmente pela oralidade, “quase esquecidos e/ou ameaçados de extinção”, mas como potenciais produtivos e comerciais requeridos pela sociedade contemporânea. Agora as comunidades quilombolas parceiras deste projeto dispõem de uma ferramenta para divulgar os seus produtos, as suas práticas sociais e mudar a direção de políticas públicas no município, pois a valorização da cultura é um elemento fundamental no reconhecimento das pessoas como cidadãos de direitos, conforme previsto na Constituição Federal.
Várias comunidades afro-brasileiras estão colaborando com o projeto com o objetivo de preservar os saberes e sabores transmitidos pelos seus antepassados, agregar valor cultural aos seus produtos e fomentar a renda local, dentre elas: Campina de Pedra, Comunidade Capão Verde, Território de Mata Cavalo (Capim Verde, Ribeirão Estiva, Mata Cavalo de Cima, Mata Cavalo de Baixo, Ribeirão da Mutuca, Aguaçú), Comunidade de Morro Cortado, Comunidade Ribeirão Itambé, Comunidade São Benedito.
Trata-se de um espaço (Baú virtual) onde se registram os saberes/fazeres da população de ascendência africana cuja organização cultural, usos e práticas socioculturais foram trazidos para o Brasil pelos seus antepassados. A territorialidade desse grupo social está expressa nas práticas religiosas, alimentares e fazeres (artesanato) produzidos em íntima relação com a natureza, com os conhecimentos transmitidos por meio da oralidade, mantidos pela memória, etnicidade e histórico de resistência.
BULIXO é um termo utilizado para denominar armazéns e/ou pequenos estabelecimentos onde são comercializados todos os tipos de produtos produzidos. Nesse espaço você terá acesso ao catálogo de informações dos produtos produzidos em nossas comunidades e a melhor maneira para adquiri-los diretamente com o produtor e/ou associação.
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