A comunidade São Benedito e seus participantes unem esforços profissionais e coletivos para superar desafios e promover saberes e sabores quilombolas com produtos tradicionais da região para todo o Brasil.
A Comunidade remanescente de quilombos denominada São Benedito, situada a 50 km da cidade de Poconé e distante 104 km da cidade de Cuiabá, faz parte do rol dos espaços de referência na história da cultura da população afro-brasileira no território mato-grossense, bem como pela luta para manutenção da fonte de sobrevivência desse grupo social: a terra e pela produção da farinha de mandioca.
As terras da Comunidade São Benedito são frutos da sesmaria do Carandazinho quando o Capitão João Crisóstomo de Almeida, bisavô de seu Benedito Vicente, recebeu a sesmaria como honraria para povoamento da região, bem como de modo a utilizar a terra para o cultivo para alimentar o povo da região. Posteriormente, a área foi dividida e doada para algumas famílias que já estavam vivendo e trabalhando em roças das redondezas.
De acordo com Sales (2020) “antes de tornar-se comunidade, o lugar fazia parte de uma propriedade particular do senhor Antônio Reis de Almeida, pai do senhor Benedito. Ele morava em uma residência próxima à escola. Este senhor não queria que o local acabasse e resolveu povoá-lo. Para que sua intenção fosse concretizada, dividiu a terras entre os filhos e a outra parte para quem quisesse morar no local. A terra foi compartilhada com todos e não havia preocupação com delimitação do espaço. O surgimento da medição dos lugares se deu através do senhor Benedito Vicente Gonçalves Neto, filho do doador da terra anos depois da distribuição. Muita gente morava na comunidade e não tinha escritura. A associação possui 27 hectares que foi doado para que as pessoas morassem no local, ninguém se denominava dono do espaço, todos partilhavam de forma comunitária as terras e poderiam morar nela o tempo que quisessem”.
Todo esse processo de formação territorial deu-se na década de 1950 quando a comunidade começou a ser habitada por novos moradores, que se juntaram aos moradores do antigo sítio dedicando a agricultura de subsistência e venda de produtos artesanais para os sítios e fazendas do entorno. Inicialmente, a comunidade se chamava “Veados”, recebendo, na década de 1980, o nome atual. Registro realizado por Sales (2020) aponta que, segundo os moradores, a denominação antiga trazia constrangimentos aos moradores, por isso o Padre da cidade, Joaquim Tebas, resolveu em consenso com os residentes denominar de “Comunidade São Benedito”, devido à fé e devoção deles ao Santo.
A comunidade foi oficialmente fundada em 25 de novembro de 1973 através da realização da primeira celebração religiosa realizada pelos leigos da Comunidade, dentre eles o senhor Benedito Vicente Gonçalvez Neto, morador da região e um dos mais velhos, que na atualidade exerce influência positiva no contexto formativo das novas gerações. Nesta época, a igreja não existia e a celebração aconteceu na casa de uma moradora da comunidade.
A comunidade se considerou uma comunidade negra, devido ao grande número de pessoas negras que residiam/residem no local, e sua descendência quilombola reconhecida em 2005 por meio da certidão emitida pela Fundação Cultural Palmares.
Atualmente, a comunidade é referência na produção da farinha de Mandioca. A fábrica de farinha, denominada farinheira é responsável pela renda dos moradores e funciona da seguinte forma: cada família faz a farinha uma vez por semana. A farinha é embalada no local, que consiste na Associação dos moradores produtores de farinha, local onde tem todo o equipamento para embalar, e a distribuição é feita para os mercados do município de Poconé e em alguns estabelecimentos em Cuiabá. Confira o produto no Bulixo dos Sabores!!
(Fonte: Sales, Soenil Clarinda de Do ponto ao encontro: as percepções dos jovens da comunidade remanescente de quilombo são benedito sobre educação, etnosaberes e racismo ambiental / Dissertação de Mestrado, UFMT, Cuiabá, 2020)
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