Nossas celebrações e festas

Conheça as celebrações incluem os principais ritos e festividades associados à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário etc. que contribuem para a produção de sentidos específicos de lugar e de território para os quilombolas.

O que é o baú cultural das celebrações e festas?

As celebrações incluem os principais ritos e festividades associados à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário etc. que contribuem para a produção de sentidos específicos de lugar e de território para os quilombolas. Por meio das práticas existem saberes/fazeres que atravessam a existência dessas comunidades simbolizadas nas celebrações e/ou festas representativas nas comidas, vestimentas e adereços, feiras de artesanato e demais manifestações culturais. Permita-se adentrar nesse rico Baú cultural e aproveite!

As representações culturais explicitadas nas práticas festivas são formas encontradas pelos grupos sociais para afirmarem e reproduzirem suas identidades. Os aspectos do sagrado e profano possuem uma fronteira tênue, quase imperceptível nas ocasiões festivas. A população cria signos, simbolismos e representações da identidade festiva, que se materializam e formam as territorialidades.

Apesar da diversidade de origens culturais existentes, alguns traços gerais da cultura africana estão presentes nos territórios quilombolas, além do sincretismo religioso das religiões afro-brasileiras que misturam o tradicional culto aos orixás com o catolicismo, e a culinária, com vários elementos indígenas.

Como exemplos de práticas culturais de matriz africana em Mato Grosso, destacam-se a dança do congo ou congada, que representa a resistência dos negros, e o chorado, que surgiu no período da colônia e império, quando escravos fugitivos ou transgressores eram aprisionados e castigados e então parentes dos escravos solicitavam seu perdão e liberdade dançando o chorando. Realiza-se ainda nas cidades de Vila Bela da Santíssima Trindade e de Cáceres, ao final da festa de São Benedito, pelas mulheres que trabalham na cozinha para realização de sua festa.  Nas cantigas destacam-se as canções religiosas, que geralmente faziam parte das comemorações festivas de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito e danças que refletiam os costumes e trabalhos tribais.

A embaixada é a parte de grupos representantes dos dois Reis e representava a dança de louvação a São Benedito, o santo que representava o poder final de restituição da paz e do perdão entre os grupos de conflitos. Além da Baixada Cuiabana, especialmente em Nossa Senhora do Livramento, essa manifestação é tradicional na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, onde se registrou o número maior de população afrodescendente (FERREIRA,1997).

Batuques, cururus, jongos e congadas foram práticas comuns entre os negros escravizados e libertos. O batuque, tambu ou ainda caiumba é uma dança coletiva, cuja coreografia culmina com a umbigada, com um gesto associado aos antigos rituais de fertilidade do Congo e de Angola. Chamadas genericamente de batuques, as festas noturnas de terreiros escravos mato-grossenses e de toda a América portuguesa eram qualificadas como diversões desonestas, sobretudo pelos representantes do poder político-administrativo e religioso, manifestando-se o temor de que se tratasse de rituais pagãos e atuassem como fermento de desordem social e revolta. O batuque era visto por grande parte da sociedade colonial mato-grossense como uma ameaça à ordem, como repulsa à moral e à religião cristã, uma luta entre a civilização pacífica dos brancos contra a barbárie rebelde de africanos e afrodescendentes escravizados. Essas manifestações aconteceram fora dos círculos religiosos e, muitas vezes, se entrecruzaram com eles. Eram práticas combatidas pelos poderes constituídos, ao distanciarem-se do padrão litúrgico católico e cultural das monarquias modernas, espelhadas na Europa, representando oportunidade de reunião dos negros. Por outro lado, esse não era o único sentido dado ao batuque no período colonial mato-grossense. Esse folguedo também era entendido como uma forma de evitar-se a resistência ao trabalho escravo cotidiano – sobretudo a fuga temporária e a revolta negra (SILVA, 2011).

O sincretismo religioso presente nas comunidades afrodescendentes é representado por meio das festas de santo, notadamente a S. Benedito, padroeiro dos negros e protetor dos escravos, celebrado tanto nas festas religiosas quanto nas de matriz africana (afrocatolicismo).

 Visite a página e conheça um pouco mais sobre os momentos ímpares em que a comunidade quilombola se mobiliza para prestar homenagem aos santos de devoção e/ou padroeiros, celebrar a vida, de articulação entre a ancestralidade e fortalecimento da identidade cultural.

Existem várias comunidades quilombolas que estão colaborando com o projeto com o objetivo de promover saberes e sabores quilombolas de produtos tradicionais da região, as comunidades que compõem são Comunidade Campina de Pedra, Comunidade Capão Verde, Complexo de Mata Cavalo (Capim Verde, Estivado, Mata Cavalo de cima, Mata Cavalo de baixo, Ribeirão da Mutuca, Aguaçú), Comunidade de Morro Cortado, Comunidade Ribeirão Itambé, Comunidade São Benedito.

Em Mato Grosso a territorialidade africana tem o seu registro no século XVIII, inicialmente atuando na região das minas cuiabanas, mas com a com a expansão das conquistas pelo vale do Guaporé, na década de 1730, foram compondo a população da região das minas do Mato Grosso. Com a criação da capitania de Mato Grosso, em 1748, os escravos africanos atenderam variadas atividades, tanto no termo do Cuiabá, como no termo do Mato Grosso. Com a promoção de rotas comerciais via norte, na segunda metade do século XVIII, o abastecimento de mão-de-obra escrava africana também foi oferecido por esse percurso.  Por ter maior ligação comercial com as capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, o termo do Cuiabá recebeu escravos africanos vindos dessas capitanias pelas monções do Sul e pelo caminho terrestre Goiás-Cuiabá. Esses escravos que desembarcaram na Bahia provinham predominantemente da Costa da Mina, na África Ocidental, enquanto os que desembarcavam no Rio de Janeiro vinham de diversas regiões da África Central, principalmente de Angola. Os africanos que foram para a capitania de Mato Grosso, no século XVIII, vieram de três macrorregiões da África: Guiné-Bissau e Cacheu, da parte norte do Oeste da África; Costa da Mina, no Oeste da África, tendo como principal porto de exportação a fortaleza de São Jorge da Mina, na atual Gana; África Central, na região que compreende Angola e Congo, tendo como portos de exportação em Luanda e Benguela, em Angola. (ARRUDA & SILVA, 2019).

Gilian Silva (2015) afirma que africanos e seus descendentes, cativos ou livres, constituíram a mão-de-obra primordial nas principais atividades econômicas que se desenvolveram no território de Mato Grosso, atuando na mineração do ouro, nas atividades agrícolas realizadas nos engenhos e nas fazendas de gado, como vaqueiros, nos criatórios de suínos, na curtição de couros e no processamento da carne, na produção do açúcar e aguardente. Nos núcleos urbanos, realizaram serviços domésticos, no comércio, em todas as atividades que exigiam trabalho manual, a exemplo do transporte de água das fontes ou bicas para as residências de seus senhores. Muitos dos cativos africanos ou crioulos, ou seja, de filhos de africanos nascidos no Brasil, formaram comunidades resultantes de suas fugas diante do domínio de seus senhores.

Esses grupos sociais, fugindo da exploração branca, passaram a conviver comunitariamente por meio de uma fusão de elementos culturais de origem indígena e africana. Entre os séculos XVIII e XIX, outros quilombos surgiram em Mato Grosso, por exemplo, os quilombos Mutuca e Pindaituba, situados na Chapada dos Guimarães, os Sepoutuba e Rio Manso, próximos à Vila Maria, atual município de Cáceres.

 Embora sejam muitas as comunidades remanescentes dos quilombos, de acordo com a Fundação Palmares, apenas algumas estão legalmente  cadastradas, como é o caso das comunidades quilombolas mato-grossenses de Taquaral, Exu e Santana, Boi de Carro, Rodeio, Chafariz, Campinas 2, São Benedito, Retiro e Urubananba,  Baixio e Vaca Morta, Boqueirão  e Casalvasco, Abolição, Aguacu, Coxipó Acu e São Gerônimo, Ribeirão  do Mutuca e Carrapatinho, além  da  comunidade de Mata-Cavalo de Cima, que  luta pelos seus direitos de posse sobre a área da Sesmaria Boa Vida. De uma maneira geral as comunidades quilombolas resistem e lutam pelos seus direitos territoriais.

Segundo Lacert (2013, p. 2) a “ a história do povo negro no Brasil e a história das comunidades negras rurais estão imbricadas pelos mesmos conteúdos desde o seu passado à existência presente, no que diz respeito às origens, lutas, fugas, insurgências, religiosidade e outras formas de resistências. No combate à dominação do opressor, as lutas duraram todo o período histórico escravista e continuam até os dias de hoje, apresentando novas configurações e novas estratégias de resistências”.

Esses grupos, importantes na estrutura econômica e social da capitania mato-grossense, (re)produziram marcas e formas espaciais no território por meio de suas práticas culturais, saberes e religiosidade que contribuíram para produção da cultura mato-grossense.

Na atualidade, as comunidades quilombolas praticaram a pecuária extensiva, a agricultura familiar, com a prática do mutirão e o artesanato, notadamente da cerâmica de argila, de produtos vegetais, confecção de redes, produtos gastronômicos como doces e iguarias da culinária local, produtores de rapadura, de farinha de mandioca, licores, doces de frutas regionais, dentre outros produtos. A pequena produção é para o consumo, para venda e para adquirirem bens que não produzem.

As celebrações e festas são feitas com o objetivo de reunir os membros das comunidades quilombolas e promover a cultura local e proporcionar alegria. Acesse a página das celebrações e festas e verifique os detalhes da celebração que lhe interesse, e considere participar.

Lista de celebrações e festas

Lista de celebrações e festas

Lista de celebrações e festas

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Você pode ajudar este projeto enviando informações sobre produtos oriundos produzidos pelas comunidades quilombolas.

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